sexta-feira, 26 de abril de 2019

Motos e enchente não combinam

Os alagamentos podem destruir o motor ou causar curto-circuito na parte elétrica da motocicleta; veja porque vale a pena esperar a água abaixar

Por Cicero Lima / Agência Infomoto
foto: Rovena Rosa / Agência Brasil
“A moto foi feita para rodar na chuva e não dentro da água”. A frase do mecânico paulista Alexandre Sauro alerta para os riscos de atravessar enchentes e alagamentos. Os problemas são muitos e podem ir de um simples mau cheiro, passando pela oxidação interna do escapamento até o travamento do motor.
Durante as recentes tempestades que atingiram São Paulo na última semana, vimos muitos motociclistas correrem o risco de tentar atravessar áreas alagadas ou enxurradas. A dica mais valiosa nesses casos é “não faça isso”; veja porque

Adeus motor

Já ouviu falar de calço hidráulico? Esse nome complicado pode levar a resultados catastróficos para o motor da sua moto. Ele acontece quando o nível da água fica acima da entrada de ar do filtro. Nesse caso, a água entra na câmara de combustão e o motor “morre”. Ao tentar dar partida novamente, o pistão comprime a água que não tem como sair e força biela, pistão e outras partes móveis do motor. “Caso a moto morra, não tente ligar ou dar tranco, ponha em ponto-morto e empurre até um local seguro”, ensina Alexandre.
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

Escapamento sem saída

Além da entrada para o filtro de ar a água também pode entrar no motor pelo escapamento. Isso acontece quando o motor “apaga” ou a moto é arrastada pela enxurrada. Se desconfiar que a moto ficou debaixo d’água o ideal é não dar partida ou tranco, pois pode haver água dentro do motor.
Mesmo que a água não tenha atingido o motor ela pode oxidar o escapamento e destruir o catalisador causando grandes prejuízos. Por isso, evite estacionar em locais onde há alagamentos. Mas caso isso aconteça e você desconfie de que possa ter entrado água no escapamento, não ligue a moto e leve-a para um mecânico verificar.
Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil

Curto circuito

Uma das partes mais sensíveis da moto, e que não convive bem com a água, é o sistema elétrico. Nos vídeos de enchentes vemos que, em muitos casos, os carros e motos estão com farol aceso ou piscas funcionando. Alexandre lembra que isso é o resultado da água que “fecha” os circuitos e causa curtos, danificando módulos e afetando componentes eletrônicos nas motos modernas. “Nas motos carburadas, o CDI pode ser afetado” alerta o mecânico. 
Fernando Frazão / Agência Brasil

Câmbio, desligo

Os donos de scooters devem tomar ainda mais cuidado com o nível da água, pois a entrada de ar nesses veículos fica numa posição mais baixa do que nas motos. Além do risco ao motor e escapamento, os scooters usam câmbio do tipo automático – conhecido como CVT. Se o componente ficar abaixo da linha da água a caixa de engrenagem será afetada assim como o óleo será contaminado com lama. Rodar com o scooter nessas condições pode comprometer todo o conjunto do câmbio e causar um grande prejuízo.
Foto: divulgação

Marcas eternas

“A enchente deixa marcas eternas na moto”, o mecânico lembra que a água entra em partes de difícil acesso – como interior do quadro, por exemplo. Com o passar do tempo, essa água pode oxidar e corroer o metal sem que você veja. O mesmo acontece com o painel que perde sua cor ou fica com restos de lama na parte interna. Farol, lanterna e piscas podem ficar esbranquiçados. A água também pode encharcar a espuma do banco e, caso não fique ao sol para secar apropriadamente, pode deixar um mau cheiro que será a lembrança de atravessar um alagamento ou de que a sua moto ficou debaixo da água.

terça-feira, 2 de abril de 2019

Cuide da corrente da sua moto

Sistema de transmissão final pode durar mais de 40.000 km, mas é preciso pilotar suavemente e fazer a manutenção periódica; confira


Responsável por transferir o movimento da caixa de câmbio para a roda motriz, a transmissão final (ou secundária) é o que faz sua moto rodar, literalmente. Conhecida como relação final, é um dos sistemas na sua companheira que mais pede cuidados e uma manutenção periódica. Composta pelo pinhão (que vai junto do eixo do câmbio); corrente e a coroa, fixada à roda; a transmissão secundária é dimensionada de acordo com sua potência e tipo – esportivas, uso misto e outras.
Apesar de simples, a manutenção preventiva é essencial para a relação funcionar bem e garantir confiabilidade à moto. A seguir, listamos sete dicas essenciais para ter uma relação saudável e duradoura.




1 – Relação “limpa”
Para que sua relação tenha vida longa é fundamental deixar o conjunto limpo. Sempre que encarar chuva ou estradas de terra, lave a corrente e a coroa. A limpeza pode ser feita usando uma escova plástica, como a dental ou as de limpeza doméstica, mas existe também uma escova específica em forma de “U”. Em motos menores, o pinhão costuma ter fácil acesso – muitas vezes é coberto por uma capa plástica. A indicação é lavar e lubrificar o pinhão a cada 10.000 km.
Para retirar resíduos entre os elos, pode ser usado desengraxante que, por ser abrasivo, deve ser diluído em água, conforme informado no rótulo. Segundo o mecânico Alex Bongiovanni, da Officine Moto em São Paulo (SP), “na falta do desengraxante, o querosene pode ser usado. E, qualquer que for o produto usado para limpar a corrente, o ideal é lavar o sistema com sabão neutro ou detergente de louças. Desta forma, evita-se o acúmulo do produto de limpeza pesada, normalmente abrasivo”. Depois de enxaguar, seque a corrente usando compressor de ar ou espera secar antes de lubrificar.


2 – Relação lubrificada
A lubrificação da corrente pode ser feita com sprays específicos, ou mesmo com óleo mineral para motor. Com os elos secos, injete o óleo pela parte superior, de modo a penetrar entre eles. Não use graxa branca para uso náutico: além de acumular muitos resíduos, é difícil de ser retirada.






3 – Relação suave
Para que a relação dure bastante, deve-se conduzir a moto evitando dar trancos nas trocas de marcha. Embreagem com regulagem muito baixa pode levar a trancos nas trocas, portanto vale mantê-la ajustada. Uma moto que não precisa de “esticadas” constantes na corrente revela um uso cuidadoso.
Arrancadas e trocas de marchas bruscas são hábitos que, aliados à falta de manutenção, podem abreviar a vida da relação para menos de 10.000 km.

4 - Tudo acaba
Corrente no fim da regulagem junto à balança traseira ou ovalizada, coroa e sobretudo o pinhão com os dentes finos e tortos, indicam uma relação em final de vida. Troque urgentemente. Afinal, uma relação desgastada, pode deixa-lo na rua porque os dentes do pinhão quebraram e não há tração na roda traseira, ou pode lhe causar um acidente, caso a corrente rompa e se venha a enroscar.

5 – Relação alinhada
Para ter boa durabilidade, o conjunto de relação deve funcionar alinhado. Ou seja, uma roda torta ou fora de centro poderá fazer com que a relação funcione desalinhada e o desgaste aumente muito. Daí a importância do mecânico avaliar se é preciso alinhar a roda antes de montar o novo conjunto.

6 – Tenha uma relação completamente nova
Nunca concorde em “diminuir” a corrente tirando elos, pois a resistência dela fica comprometida. Também não se deve trocar itens em separado, sob pena das peças já usadas causarem desgaste excessivo ou não “casarem” com a nova. Bom exemplo é uma corrente nova atuando com pinhão e coroa velhos: ela terá folgas diferentes em relação aos demais itens da transmissão secundária e irá “acabar” logo. É comum utilizar coroa e pinhão de um fornecedor (muitas vezes são vendidos somente desta forma) junto de uma corrente de marca renomada. Na reposição, procure escolher corrente com retentor, que tenha o´rings nos elos e retém melhor o óleo. Atualmente, esse tipo de corrente é equipamento original de fábrica em muitas motos.

7 – Quanto dura a relação?
Tomados todos os cuidados como lavar, lubrificar a relação e conduzir a moto suavemente, o sistema tem tudo para durar até 40.000 km, ou pouco mais. Vale lembrar que motos que rodam na estrada tem menor desgaste em geral, inclusive da relação; menos exigida do que as motos usadas apenas na cidade, onde reduções e trocas de marchas são mais constantes.

Por Guilherme Silveira, para Agência Infomoto