Nas manhãs
de quinta-feira a Fernão Dias é praticamente uma avenida na altura de
Guarulhos, pertinho de São Paulo. Entre os carros e caminhões que disputam cada
metro de asfalto, um casal de idosos segue sua rotina voltando para São Paulo. Felizes
haviam alimentados os cachorros lá da chácara e logo estariam em casa.
De repente
um barulho alto na lataria faz o senhor parar o carro. Seria uma batida,
atropelou um animal? Dentro do carro sua esposa reza para que nada tenha
acontecido, o que seria muita sorte depois do susto.
Em uma
fração de segundo surge um pedestre gritando que o carro estava soltando
fumaça. “Abra o capô, rápido está pegando fogo!”. Quando o capô é aberto um
princípio de incêndio é debelado, graças a atitude gentil do até então
desconhecido.
Em meio a
confusão de caminhões, carros, buzinas, fumaça e motos descobre-se que o
problema poderia ser pior. Mas bastava ligar para a companhia de seguro e tudo
seria resolvido.
O desconhecido
fala seu nome e pede para a senhora ficar calma, ele chamará a companhia de
seguro. Em poucos minutos surge o mecânico
da seguradora. Uniforme impecável, atencioso e portador de péssimas notícias:
“Outro caso
do Gol, está se tornando rotina a Centralina quando queima pode incendiar o
carro, o senhor teve sorte”.
Enquanto
isso o gentil desconhecido, diz que precisa ir embora por conta de um
compromisso. Leva com ele as palavras de agradecimento da senhora por sua
atenção “graças a Deus o senhor estava passando, muito obrigado mesmo”.
Enquanto
isso o mecânico liga para a concessionária para cotar o valor da peça. “É um
roubo o que esses fabricantes fazem, cobrar R$ 5 mil por uma Centralina
eletrônica. A peça está fora da garantia, e eu não posso fazer nada.”
Começa então
um embate para resolver a situação. Mas o mecânico “por sorte” encontra a peça
em meio a sua mala de ferramentas. Cobra um preço mais baixo e arruma o carro pela
metade do valor, incluindo o preço da mão de obra.
Preciso
receber em dinheiro informa ele, a peça pertence a companhia “tenho que compra-la
para devolver ao estoque ainda hoje, posso até perder o emprego”.
Para
facilitar as coisas acompanha o casal até o banco onde recebe o dinheiro sacado
na boca do caixa. Por fim dá um conselho: “Meu senhor, cuidado ao rodar por
estradas de terra esse defeito é mais comum em carros que costumam rodar nesse
tipo de piso. Em todo caso fique com meu telefone, tenha um bom dia”.
Em pouco
tempo o casal já está de volta a sua rotina. Fecham o portão e entram em casa,
o senhor olha para o carro, pragueja
contra o fabricante, estufa o peito e diz que velho Fusca era um carrão. “Olha
o prejuízo que esse carro novo cheio de frescura me deu”. Mal sabia ele que era
tudo um golpe...
Escutei esse
relato de uma atendente do posto da Auto Pista Fernão Dias na Vila Galvão. Segundo
ela as reclamações são diárias sobre os golpes na região e a polícia já busca
um jeito de encontrar os bandidos.
Os golpistas
seguem os carros com idosos e usam todos os truques para persuadir as vítimas. Até
casais com crianças passam ao lado e avisam que o carro da vítima está com
problemas, soltando fumaça, a roda está balançando etc... Os mais astutos chegam
a jogar um objeto de borracha no carro, o barulho é grande e não deixa marcas.
Quando a vítima
estaciona para ver o que aconteceu surge, como por encanto, um bom samaritano.
Não é um golpe novo, mas a forma de aplicá-lo ganhou contornos de espetáculo
envolvendo vários atores.
Os bandidos
parecem ter feito escola de teatro, tamanha a capacidade de envolver as vítimas
na encenação. Por fim surge o “mecânico” com roupa da seguradora e completa o
assalto sem armas. Segundo a atendente da Auto Pista Fernão Dias as vítimas
preferidas são os casais de idosos.
No golpe, além
do dinheiro das vítimas, os bandidos roubam a fé das pessoas. Tomará que a senhora
e seu esposo jamais descubram que foram vítimas de um golpe. Saber que aquele moço
educado e prestativo, na verdade era um bandido. Para eles será um golpe muito
duro, um golpe que poderia roubar a Fé que até então eles tinham nas pessoas.