Além de vender é preciso informar o custo de manutenção |
Para muitos brasileiros a facilidade do crédito se tornou uma armadilha. Nas
concessionárias ou loja de usados, os modelos brilhando na vitrine ou com
cheirinho de carro novo funcionam como iscas para peixes famintos.
A fome dos peixes (ou consumidores) é fomentada pelas precárias
condições do nosso transporte público e pela vontade de ter o conforto e a
liberdade de ir e vir quando quiser. Vontade e necessidade que só podem ser supridas, na maioria das vezes, por um carro ou
uma moto. É nesse momento que entra o
crédito fácil.
Hoje pela manhã a jornalista Mirian Leitão comentou a nota
publicada pela ANEF (que reúne as financeiras das montadoras) dando conta do aumento
da inadimplência, que chega a preocupantes 5% (ou seja, o dobro comparado a 2010).
Segundo a jornalista, a maioria desses inadimplentes optou pela compra do carro em 60 vezes sem entrada, sendo que 35% deles estavam
comprando seu primeiro carro. Esse consumidor, que poderíamos classificar como
entrante, não está acostumado aos custos da manutenção de um carro.
Para ele IPVA, seguro, consumo de combustível e outras despesas não
entram na sua conta do mês. Prova disso é que, segundo a jornalista, a maioria já começa a ter
problemas com atraso da prestação após um ano da aquisição do bem.
Agora cabe a pergunta: quem tem a responsabilidade de educar
esse consumidor? Segundo Décio Carbonari de Almeida, presidente da ANEF “as instituições
financeiras tem a obrigação de esclarecer e só conceder crédito ao consumidor
que tem condições de assumi-lo”.
Entretanto, ter condições de se pagar uma parcela, não significa que o consumidor também terá como “sustentar” o carro e muitas vezes ele não sabe disso.
Como sabemos, a inadimplência é um dos fatores que torna o
crédito cada vez mais caro e no final todos acabam perdendo quando alguém deixa
de pagar. Desde o dono da concessionária, o vendedor e o consumidor que pagará mais caro pelo financiamento.
O dobro da inadimplência é um sinal de alerta para financeiras, concessionárias
e vendedores que no anseio de cumprir suas metas estão jogando a isca para
qualquer tipo de peixe, um peixe que no futuro poderá causar indigestão a todo
nosso setor.